Verdades plantadas

Bruna Lauer
2 min readFeb 8, 2024

Certa vez, uma velha muito sábia, prevendo sua morte chegar, percebeu que precisaria proteger os segredos mais importantes da humanidade.

No pouco tempo que tinha, pegou um pedaço de papel e, com um lápis mal apontado, se colocou a escrever tudo o que sabia e que precisaria esconder.

Sua vida estava em risco, mas não apenas. Em sonho, soubera que todo o seu povoado estava por desaparecer.

Proteger a verdade era imperativo. Sabia que tinha a missão de cuidar de tudo o que era ordinário e, portanto, precioso. Sabia que os olhos do futuro não teriam tempo para descobrir tudo o que ela conhecera, e aquele saber se perderia por completo.

Sua intuição lhe indicou o caminho. Enterraria aquele pedaço de papel rabiscado.

Fotografia de uma mão segurando um pequeno boneco de barro. Ao fundo, o verde da grama.

Na terra, a verdade foi se desfazendo. Se tornando parte do ciclo infinito de morte e renovação. E, ao mesmo tempo em que o papel se dissolvia, a verdade se espalhava.

Por debaixo do solo, nesta parte do globo em que os olhos não percorrem, as raízes das árvores absorviam a sabedoria. E, cuidadosamente cúmplices da velha, espalhavam-na mundo afora, através dessa poderosa rede de comunicação invisível.

A verdade percorreu norte e sul do globo. Se aprofundou. Foi se somando à outras verdades e se tornou gigante.

A velha morreu. O povoado desapareceu. Mas a sabedoria atravessou o tempo e segue disponível, ao alcance das mãos curiosas que insistem em saber. E cavam.

Já não existem mais palavras. Ainda assim, para tudo o que você quiser saber, pergunte. Junte às mãos ao barro e pergunte. Insista. Pergunte e escute. Pergunte e se permita sentir a verdade, pois ela virá até você.

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Para desempoeirar este blog, ama história que nasceu do trabalho lindo da @biancamimiza, minha querida professora de yoga e artista talentosa.

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Bruna Lauer

Esvazio o lado de dentro colocando tudo para o lado de fora através das palavras.